A Senda Esotérica nas Artes Marciais

Por todo o Brasil, hoje é quase impossível determinarmos ou sabermos o número exato de academias, centros de treinamentos ou lugares para prática do culto ao corpo. Onde se ensinam o domínio das forças secretas dos homens, as artes marciais e defesas pessoais; não importa origem, seja ela japonesa, chinesa, coreana, etc.

Mas o que bem pouco dos que praticam (inclusive alguns instrutores, professores, pseudos mestres) sabem, é que, além dos aspectos de defesa pessoal e de práticas esportivas, o caminho das artes marciais é uma senda, uma vereda espiritual. Como aprende-se no DŌ, é uma senda de iniciação religiosa e esotérica, que percorrida corretamente dá acesso a dimensões de uma realidade pouco conhecida.

Num raio de poucas quadras ou quilômetros, o interessado pode percorrer uma verdadeira “Estrada de São Tiago” das artes marciais. Segundo gosto ou preferência, poderá adestrar-se em práticas que vão desde a suavidade do Aikidō até as técnicas do M.M.A. (a arte mais difundida e praticada atualmente). Em salões despojados e simples de velhos edifícios, em garagens e porões, no gramado de um despretensiosa igreja cristã, foi assim que iniciei nos anos sessenta.


Muitas coisas mudaram, hoje temos academias e centros de treinamentos modernos, com tecnologia de ponta para um melhor desempenho do atleta ou artista marcial. No entanto, não será fácil sentir e compreender mesmo depois de uma prática prolongada, que tanto no suposto agressivo arremesso punho do Karatê-D­ō, quanto nas infundáveis quedas sobre o tatame do Judō, Aikidō, Jiujitsu ou Rapki-Dō, nos saltos quase impossíveis do Taekondō, Muay-Tay, Capoeira ou Wu-Shu, o objetivo do verdadeiro mestre não é transformar o aluno numa eficiente máquina pensante de machucar ou até mesmo matar. Na verdade, cada uma dessas artes marciais está profundamente ligada a algum pensamento religioso característico da região onde ela se desenvolveu e foi aperfeiçoada. Sua prática, desde que corretamente orientada, permite (abolindo imperfeições da comunicação oral) harmonizar o eu interior com o todo Universo.

No percurso desse aprendizado o aluno vai adquirir desde um simples (porém difícil) domínio das emoções, até supostos poderes considerados insólitos, como vencer o adversário com pequenos toques, ou perceber que pode curar um enfermo com as mãos.

Em suas raízes mais profundas todas as artes marciais do oriente reproduzem a oposição do par primordial, surgindo com a ordenação do caos. De fato quando há um par de lutadores (ou dois exércitos) um será ativo, quando atacar, e o parceiro será passivo, ao defender-se. Como tal ordem dinâmica (o movimento continuo ativo – passivo) é comum ao todo existente, o lutador que harmonizar seu movimento com o movimento da criação será sempre o vencedor. Assim, aquele que souber distinguir a essência do universo, oculto além das aparências, será vencedor em qualquer confronto. Da mesma maneira, aquele que aprender os segredos da luta aprenderá também os segredos da existência.

Cada uma das técnicas de luta oriental reivindica uma origem que se perde nos domínios do mito e do proto-histórico. Embora os adeptos dessas artes marciais atribuam mais antiguidade à modalidade de luta a qual se dedicam, há uma série de pontos comuns a todas elas. Entre esses pontos um dos mais importantes é, sem dúvida, o treinamento que obriga o aprendiz a sistemática e gradativamente, substituir o intelecto discriminatório por uma nova forma de “pensar”, peculiar ao ser interior de cada um.