O Homem e o Drama do Grande Combate.

Exercitando-se na luta o aprendiz reproduzirá o combate cósmico essencial para a manutenção do equilíbrio da criação. Esse também é o sentido oculto de todo o ritual nas religiões tradicionais, onde o oficiador procura reproduzir, no nível da cerimônia, operações essenciais do grande drama cósmico.

O Brihadâranyaka Upanishad quando explica o sacrifício do cavalo (rito imemorial, já praticado na Índia desde os tempos védicos e encontrado até bem pouco tempo entre os povos pastores uralos-altaicos): Em verdade, a aurora é a cabeça do cavalo do sacrifício. O Sol é o olho, o vento, a sua respiração (prana), o fogo (vaishvanara), a boca aberta, o ano é a essência do cavalo do sacrifício.

Lembrando que os cultos ancestrais xamânicos, a magia ritual e a definição de mundos e forças supra sensíveis acabaram incorporados às grandes religiões da Ásia, pode-se dizer que as artes marciais transmitem ou sintetizam princípios que estão todos enunciados no hinduísmo, budismo, xintoísmo e taoismo.

As práticas xamânicas que codificam as experiências místicas dos povos chamados “primitivos” no Japão, substituíram lado a lado se não incorporadas com o xintoísmo, a religião nacional. Caracterizada por rituais onde o transe mediúnico (Kamigakari) tem grande importância e pelo reconhecimento de forças espirituais (os Kami) que subsistem em todos os seres animados e inanimados e fenômenos da natureza, o xamanismo japonês sintetiza com bastante propriedade todos os demais cultos pré-históricos do continente asiático. Sua importância em relação as artes marciais repousa principalmente na transposição do combate cósmico para o plano terrestre nas lutas rituais e no valor do ferro e da espada como material e instrumentos mágicos.

Embora a palavra (Kami) seja traduzida como “deus”, ela antes define a essência supra sensível, subjacente a cada objeto ou ser, inanimado ou animado, e que em determinados casos assume a qualidade de divindade guardiã daquilo que está ligada, de um local e de suas proximidades. Como realidade supra sensível, seu significado está muito próximo à imagem matiz das coisas que têm existência no mundo das ideias de Platão.

Evidentemente, árvores, rochedos e montanhas têm lugar de destaque entre os pontos preferidos pelos kami, e o culto xintoísta era frequentemente realizado nesses locais. Quando foram construídos templos, a arquitetura xintoísta, valendo-se da madeira bruta, da pedra e da palha, buscou preservar a ideia de simplicidade natural.