A Vitoria do suave sobre o rígido

A fabricação das Katanas japonesas, as práticas do Taichichuan do Aikidō e do Iaidō, são as artes militares onde o religioso ou o “mágico” transparecem com mais evidência.

Seus praticantes aprendem a harmonizar-se com as forças sutis que percorrem a terra e o céu e a descobrir em si próprios o homem eterno e invisível.

A vitória do suave sobre o rígido é lembrada em todas as tradições referentes às origens das artes marciais. Atribui-se a origem do Jiu Jitsu, antecessor do Judō, a um médico contemporâneo de Ninigi, neto da deusa Amateratsu. Passeando nas praias do mar interior, na ilha de Hondo (filha da deusa), ele viu que a neve espessa acumulou-se sobre uma cerejeira centenária, acabando por quebrar o galho principal da árvore. Perto da cerejeira, um delgado bambu apenas curvou-se com o peso da neve e, deixando a cair, voltou a posição original. O movimento do bambu, conta a história, serviu de inspiração para os movimentos do Jiu Jitsu.



Tempos depois, 22 anos antes do reinado de Jimmu (o primeiro imperador histórico), dois lutadores apresentaram-se na corte; Taimano Kettaya e Nomi-No-Sukume. O Primeiro foi descrito como um verdadeiro gigante, e o segundo como um jovem delgado e pequeno. No entanto, para a admiração de todos, usando as técnicas do Jiu-Jitsu, tradicional, Sukume venceu Kettaya. Seu estilo de luta passou a ser uma arte marcial do país. Uma história semelhante explica as origens do Taichichuan, contando que o monge taoísta Chen Tsan Fun, assistiu por acaso a um combate entre uma serpente e um pássaro. Os movimentos dos dois animais, girando em torno de si mesmos e ocupando sucessivamente o lugar onde pouco antes estava o adversário, lembrou-lhe o símbolo do Yin e do Yang, fazendo com que estabelecesse os princípios do Tai-Chi, segundo o grande mestre instrutor e praticante de Tai-Chi (Kwong Ming Lai) é originalmente uma postura mental e não um conjunto de movimentos específicos. A rigor pode-se colocar em prática o Tai-Chi, embora estejamos lutando Karatê-Dō, esgrimando com uma Boken ou uma lança ou usando qualquer outro estilo de arte marcial. Sua finalidade real é proporcionar longevidade e equilíbrio físico, psíquico e energético. Como o indivíduo que alcança esse equilíbrio não pode ser atingido por um inimigo, o Tai-Chi é também uma forma de luta. Em resumo, harmoniza o homem com o infinito, o microcosmo com o macrocosmo.

O praticante aprende a liberar conscientemente suas energias sutis através das extremidades (mãos e pés) e assim cria um “espaço interior” para absorver energia cósmica. O mesmo princípio explica o “milagre” do lutador de Tai-Chi, Karatê, Aikidō, Judō e Capoeira, que agredido expele parte de sua própria energia, podendo absorver, sem sofrer dano, a energia do golpe do adversário. Assim, com Neshiba, conheci um mestre de capoeira Mestre Bradesco, que só era tocado caso quisesse, qualquer movimento do praticante parte da consciência que ele dever ter da energia acumulada sob o umbigo , na região chamada de Tan-Te ou Tanden, que em japonês tem o nome significativo de "campo do remédio".

Usando seu corpo como forno alquímico, o praticante aprende a harmonizar em seu ser o Yang do céu e o Yin da terra.

Registra uma inscrição rupestre chinesa, datada de 1556: "Sim, vasto e supremo é o Tao, em torno dele mesmo, agem por não agir, fim e começo de todas as idades; nascido antes da terra e antes do céu, abraçando em silêncio a totalidade do tempo, atravessando sem parada a continuidade dos séculos, a leste ele instruiu o grande Confúcio, e a oeste converteu o homem de ouro Buda. Tomando por modelo por cem reis, transmitindo por gerações de sábios, ele é o ancestral de todas as doutrinas e o mistério que ultrapassa todos os mistérios."