Despertar a Força Interior

O verdadeiro sentido da arte marcial salta aos olhos quando aprendemos o significado da palavra Budō, designativa do conjunto de disciplinas (incluindo o código que ditava uma forma de comportamento) nas quais era treinado o guerreiro. Enquanto , pode ser traduzido como caminho para atingir um estado mais aperfeiçoado, o ideograma Bu é formado pelos sinais hukka e tomeru. Enquanto esse último significa guardar, o outro designa a espada reta, de modelo chinês, com dois fios e pontas triangulares, que foi o primeiro modelo a ser usado pelos guerreiros japoneses. Incongruentemente, pois a palavra que designa o conjunto de artes militares quer dizer o “caminho daquele que mantém sua espada guardada”. Se entendermos “espada” como um potencial de agressão, sempre pronto a atingir o próximo em defesa de interesses egoístas e da personalidade, o caminho que ensina a manter a arma guardada atingirá seu significado religioso.



“As armas são acima de tudo os instrumentos do mal. Portanto, o homem religioso as evita”, escreveu Lao Tsé.

É ainda esse espírito que transparece no símbolo das escolas de Karatê-Dō, que seguem o estilo Wadō-Ryu, criado há 79a pelo grande mestre Otsuka-Hironori: um punho fechado, visto de gente, que é totalmente circundado pelas asas abertas de uma pomba. A prática do budismo Zen é conhecida por ensinar ao discípulo que o estado de Buda pode ser alcançado simplesmente chegando-se a uma atitude mental de vazio, Muga, obtido com o exercício de sentar-se e respirar ritmicamente. O discípulo não sabe como o ato de sentar vai esvaziar sua mente, e muito menos como chegará ao estado de Buda. No entanto, forçado por seu mestre, ficará horas sentado todos os dias, durante meses, anos, até que um dia “perceberá”.

Esse aspecto da prática é conhecido nos Dojōs, academias de artes marciais japonesas, como Gyo, que significa “fazer”.

Fazer e não falar, e não intelectualizar, fazer repetidas vezes, até a exaustão, seja uma queda no Judō, a torção rápida seguida de uma pancada no Aikidō, ou uma simples mudança de passos, durante a prática de um Kata no Karatê-Dō. Mesmo sem uma análise profunda da arte marcial, o aspecto religioso que reveste seu treinamento e prática pode ser percebido com a simples observação do Dojō. Em todos eles – seja uma academia de Judō, Kendō, Karatê-dō, ou Aikidō; na parede, no lugar de honra, destaca-se o pequeno sacrário xintoísta, de madeira crua, reproduzindo a fachada de um templo dessa religião.

Em muitos pode ser vista ainda uma imagem de Manjushri, o Bodhisattva (guia) da compreensão e da iluminação, ou o retrato, em rápidos traços de sumi (nanquim em pedra), de Bodhidharma, o sacerdote originário da Índia que introduziu o Zen na China.