Origem do Karatê e nascimento do Karatê Moderno.

Competição



Características atuais.


O Karatê, originado na Índia ou na China a aproximadamente doze séculos atrás, tem se desenvolvido como método efetivo de defesa sem armas. Neste período de 1200 anos, o desenvolvimento do Karatê tem sofrido mutações, seguindo os padrões típicos de um processo em evolução. À medida que a arte foi sendo cultivada e transmitida de mestres a estudantes, cada geração somou tanto contribuições como modificações e pequenos grupos deram origem aos diferentes estilos de Karatê, hoje em evidência.


Cada cultura oriental tem implantado um forte traço no estilo individual que ela adotou e, recentemente, cada estilo vem sendo submetido a severo e contínuo teste de combate real. Por causa deste processo de "seleção natural", aquelas formas de Karatê que sobreviveram ao teste de combate contêm as essências das técnicas corretas e efetivas.

Como o Karatê-competição não é diferente de nenhuma outra forma de competição onde estejam envolvidos julgamentos de valores, a consequência de uma contenda fica nas mãos do oficial ou do árbitro.

Desde sua introdução, em maio de 1930, no Japão, pelo mestre Gichin Funakoshi, convidado do MEC japonês, até os dias de hoje, a arte do Karatê tem sido submetida à pesquisa de métodos científicos, com o propósito de melhorar as técnicas, eliminando os movimentos superficiais e criando métodos de treinamento sistemáticos.

Há cerca de 500 anos atrás, na era dos Samurais, não existia o conceito "Esporte"; os samurais praticavam seus exercícios como forma de defesa pessoal ou arte marcial, através dos quais educavam a disciplina e a paz, a moral e o civismo, para impor a ordem e a paz à sua Nação.

O mestre Funakoshi pretendeu, com seu método, que visava a Educação Física como forma de defesa pessoal, aliada à filosofia dos samurais, mas com base científica, formar os estudantes, de primeiro e segundo graus, o que tem dado brilhantes resultados com os estudantes da ilha de Okinawa (Sul do Japão), em sua formação como homens.

O Karatê foi considerado "Arte Divina" pela sua grande eficiência no combate real, mas seus métodos tinham características de sigilo, pela invasão e domínio do feudo da província Satsuma, nessa ilha, sendo proibido o uso das armas aos cidadãos que nela viviam.

O acontecimento mais importante do Karatê moderno foi quando ele se transformou de arte marcial em esporte de competição. Este fato foi básico para o que hoje existe.

Nos últimos anos, desde a implantação do KARATÊ-COMPETIÇÃO no verão de 1953, o esporte tem evoluído fantasticamente e importantes pequisas têm sido feitas por candidatos a instrutor em escolas autorizadas. Assim, pelas características da modalidade, o KARATÊ tem se espalhado pelos "campus" das universidades e os cientistas, em clubes de KARATÊ universitários, têm aplicado seus cérebros e equipamentos da investigação de vários aspectos da arte.

Aqueles poucos indivíduos, que foram realmente mestres na arte do KARATÊ exibem capacidades as quais parecem estar próximas dos limites do potencial humano. O praticante de KARATÊ, quando se confronta com o atacante, uma pessoa altamente treinada nos aspectos físico-mentais do KARATÊ, apresenta um comportamento e dá provas de sentimentos completamente incomuns a alguém tão ameaçado. Existe uma ruptura de pensamento intelectual e de emoções como raiva, medo ou orgulho. Em lugar disso, ele não se sente mais como um indivíduo separado das coisas que o cercam, mas como um indivíduo em seu ambiente.

Até mesmo seu oponente é olhado como uma extensão de si próprio. É considerável que tais sentimentos subjetivos estejam abertos ao estudo cientifico. Mas, em investigações recentes, registros eletroencefalográficos de ondas cerebrais indicam uma frequência de aproximadamente 10 ciclos por segundo (10Hz).

Tais atividades da onda Alpha são flutuações uniformes e mais comumente observadas em pessoas imediatamente antes de dormirem. Seus padrões regulares contrastam notadamente com a flutuação errática aparente do cérebro, no estado do despertar. Estudos recentes têm mostrado que praticantes de Zen e Yoga também apresentam esta atividade de ondas Alpha, durante período de meditação.

A diferença significante entre o treinamento de KARATÊ e disciplinas meditativas é que o KARATÊ requer o estado de ondas Alpha em uma atividade, ou num estado de atividade em potencial, o que obviamente não ocorre com o Zen e a Yoga. Em particular, são os períodos de tranquilidade no começo e no fim de cada sessão prática, a alta serenidade e atitude disciplinada mantida durante o treino e aproximação gradual para a luta, com considerável atenção dada as atitudes psicológicas.

Desde que foram descobertas as relações entre meditação e ondas Alpha, têm havido mais investigações para se auto-induzir ondas Alpha, particularmente nos departamentos de medicina e psicologia de muitas universidades.

Têm sido criados filtros eletrônicos, que converterão o rendimento EEG a um som audível, de tal modo que o som aumenta o volume à medida que aumenta o comprimento das ondas. Usando tal esquema, um estudante que medita pode aprender a induzir e controlar estas ondas dentro de seu cérebro, regulando seus próprios sentimentos. Tal auxílio técnico poderá ser útil ao ensino de um estudante de KARATÊ sobre a atitude mental que ele deve ter durante um combate.

Quando se mantém uma profunda concentração do tipo acima referido, um aluno adiantado de KARATÊ é alertado para os primeiros sinais de que seu oponente está pronto para movimentar-se. Estes sinais podem ser extremamente sutis e não conscientes, mas ele responderá imediatamente. O treino do KARATÊ dá condições ao estudante de dar sua resposta inicial diretamente com o centro do corpo, com uma torcida repentina, ou com um esquivar de quadris e sem fazer um julgamento consciente do que seu oponente está fazendo e como ele vai responder.

O tempo de reação humana foi estudado largamente. A maneira padrão para medir o tempo de reação individual é usar um esquema eletrônico de timing, que é  ligado simultaneamente a um sinal em forma de um flash de luz ou um som agudo. Em resposta a este sinal, o sujeito aperta imediatamente um botão que desliga o timer. Assim, o tempo decorrido entre o início do sinal e a resposta muscular é registrado.

O tempo fixo de reação para uma pessoa com reflexos rápidos é de aproximadamente 150 milésimos de segundo. Os estudantes de KARATÊ sujeitos a este tipo de teste têm registrado frequentemente tempos de reação inferiores a 100 milésimos de segundo.

Os estudantes testados relataram que seus melhores tempos de reação dependeram de 2 fatores: 1) que eles foram capazes de adquirir uma intensa concentração, e 2) que a reação foi involuntária e originada do centro do corpo.

Há certamente um limite mais baixo para a rapidez das reações de alguém. Para entender isso vamos considerar, em termos do sistema nervoso humano, como alguém dá uma resposta motora para um sinal de luz. A luz que cai nos olhos produz impulsos eletroquímicos nos nervos óticos, os quais, depois do curso de algumas informações preliminares, voltam ao centro visual do córtex.

Depois de alguma permanência dentro do córtex, os sinais eletroquímicos são enviados à base do cérebro e, dai para baixo, da espinha dorsal aos vários músculos que eles fazem com que contraiam; assim o botão de parada é pressionado. Desde que os impulsos eletroquímicos percorrem as fibras nervosas a velocidades fixas, dependendo, principalmente, do enfraquecimento das fibras e, desde que precisam percorrer uma distância fixa do olho, através do cérebro, até o dedo, é obvio que a reação não pode ser instantânea, mais precisa levar um tempo mínimo.

Para explicar as rápidas reações dos alunos de KARATÊ mais avançados, é preciso examinar aqueles processos no sistema nervoso que se juntam a esse tempo mínimo. De particular interesse é a demora substancial do processo, que é de cerca de 50 milésimos de segundo entre a chegada do sinal ao olho e o início dos sinais que causam a resposta motora no córtex cerebral (a parte pensante do cérebro).

Os sentimentos subjetivos dos estudantes de KARATÊ, durante os testes de reação, incitam-nos a conjeturar que quando uma rápida reação é produzida, o estudante de KARATÊ, através do seu treinamento, reduz grandemente ou até mesmo deixa de lado, o tempo de permanência no córtex  cerebral, de modo que o sinal para agir procede mais diretamente da base do cérebro. Neste caminho, sua reação inicial é disparada como um movimento involuntário. Este tipo de reação é mais primitivo e característico do comportamento humano. Planeja-se agora continuar estudando, com o eletroencefalógrafo, a fim de determinar se esta conjetura é deveras correta e para explorar, na íntegra, o mecanismo da reação rápida. O conhecimento deste mecanismo poderá, um dia, sugerir novos métodos para uma reação aperfeiçoada no KARATÊ.

Dentre os poucos mais avançados no domínio do KARATÊ e outras das artes marciais, há um sentimento geral de que alguns são capazes de entender, de maneira inconsciente, exatamente quando um oponente toma a decisão de se mover, mesmo antes que esse movimento comece. Contra-atacando no instante entre o pensamento e a ação do atacante alguém é, então, capaz de apanhá-lo, num momento muito vulnerável. Considerações dessa estranha habilidade são comuns nas lendas de samurais.

Não se sabe se aqueles que possuem esta habilidade foram simplesmente condicionados, por si próprios, para serem extremamente sensíveis a qualquer sinal que possa trair as intenções dos seus oponentes (por exemplo, uma ligeira tensão dos músculos faciais),  ou se a explanação coloca de lado o domínio da ciência atual sob a direção da parapsicologia. Em qualquer caso, é um fenômeno interessante de ser investigado.

Alguém pode marcar este fenômeno pela simples modificação do esquema de timing reaction que descrevemos acima. Em vez de o casual disparar do sinal de luz, nós temos uma segunda pessoa que toma o papel do oponente e dispara a luz na vista da pessoa cuja as reações estão sendo testadas. Se neste caso uma cuidadosa análise estatística revela que as reações de tempo são notavelmente diminuídas, se comparadas com reações disparadas casualmente, então é justo concluir que o sujeito pode de fato ler as intenções de um oponente.

Finalmente, para determinar se essa habilidade é dependente dos sinais visuais sutis, podemos realizar a mesma experiência com a pessoa, disparando o sinal inicial total ou parcialmente oculto, do ponto de vista do sujeito que reage.

Novamente vamos retornar ao nosso exemplo da situação de ataque e contra-ataque. A repentina e involuntária  reação central do corpo da fase 2 proporciona a "técnica" que vem a seguir.

No nosso exemplo particular, a reação do corpo é uma rotação repentina e a técnica resultante é um soco inverso simples, encaixado com um obstáculo abaixo, para desviar o chute. O julgamento que corresponde a esta técnica particular é feito depois de o movimento do centro do corpo ter começado, e a força conduzida é avaliada.

No momento em que o soco inverso atinge o alvo, cada grupo muscular das pernas, quadris, tronco, braços, etc. é coordenado e movido junto, de maneira a dar o poder máximo à técnica. Tal coordenação resultaria de muitos anos de prática e ajustamento das técnicas básicas.

À medida que os músculos vão adquirindo velocidade em direção ao impacto, o corpo fica leve e flexível e, no momento do impacto, o corpo todo se "fecha", repentinamente de tal maneira que o ponto de contato, nesse caso o punho, se torna uma extensão do centro do corpo. Como resultado deste fechamento o alvo experimenta a massa completa da parte de trás de punho.

Este fenômeno de coordenar os músculos do corpo e fechá-los repentinamente no impacto, assim como tornar máximo o efeito de uma técnica, é chamado focus.

As técnicas focalizadas são um ingrediente essencial do KARATÊ. Elas respondem pelas forças de ruptura que podem ser produzidas por uma pessoa que treina KARATÊ, ou até mesmo por alguém de constituição muito leve.

Para se obter uma tosca figura de como esse enfoque contribui para o poder de uma técnica, vamos pensar num soco como uma colisão entre o atacante e o seu alvo. Nesta colisão o momentum é transferido através do punho do atacante à meta. Como resultado o alvo, e também o punho, experimentam a força enquanto estão em contato.

A grosso modo, a soma do momentum transferido é proporcional à velocidade na direção do alvo dos diversos componentes do corpo e também proporcional à massa (ou peso) desses componentes. Evidentemente, quando as partes mais sólidas (maciças) do corpo, tais como os quadris, também são envolvidas, o momentum através de um soco é aumentado consideravelmente, mesmo se estas partes maciças estão se movendo vagarosamente, quando comparadas com a velocidade mais alta do punho.

Se, transferido uma dada soma de momentum, o punho e a meta em questão estão em contato por um longo intervalo de tempo, a força entre eles não crescerá muito e o efeito será mais parecido com um soco. Se, por outro lado, enquanto se transfere o mesmo momentum, o tempo de contato é muito pequeno, a força se torna muito grande e capaz de causar ruptura.

O fechamento do corpo no impacto, na técnica de KARATÊ focalizada, tem o efeito de reduzir grandemente o tempo de contato e, por isso, produz grande força.

Há alguns anos, o Dr Ingber, do Departamento de Física da Universidade da Califórnia, em San Diego, mencionou as equações que descrevem o tipo de colisões que podem ocorrer como um resultado de uma técnica de KARATÊ. Ele usou então estas equações para designar um aparelho medidor de impacto, que mediria o grau de focus de uma técnica.

Mais especificamente, este aparelho mediria não apenas quão grande é a força de um soco ou de um chute, como também o tempo de contato e quanta velocidade e foco contribuem para esta força. Esperamos que o medidor de impacto seja logo avaliado em quantidade como um esquema de testes e um auxílio de treino.